quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Filme com Gloria Pires no papel de homossexual estreia em Berlim

Em 'Flores raras', de Bruno Barreto, ela faz arquiteta apaixonada por autora.
Produtora Lucy Barreto, mãe de diretor, lembra história real: 'Grande amor'.

O Brasil levou na segunda-feira (11) para o Festival de Berlim o filme "Flores raras", que aborda os 15 anos de relação amorosa entre a poetisa americana Elizabeth Bishop (interpretada pela australiana Miranda Otto, de "Senhor dos anéis"), e a urbanista, paisagista e arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires). O filme tem previsão de estreia em 9 de agosto no Brasil.
A produtora do filme, Lucy Barreto, mãe do diretor Bruno Barreto, falou em Berlim sobre o filme, em entrevista coletiva acompanhada pela agência EFE. "Tive a oportunidade de conhecê-las nos anos 50 e sim, foi o grande amor das duas", disse sobre a escritora e a arquiteta retratadas em "Flores raras".
Glória Pires, durante os ensaios, já caracterizada como a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares (Foto: Divulgação)Glória Pires, durante os ensaios para o filme, já caracterizada como a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares (Foto: Divulgação)
A obra, dirigida por Bruno Barreto e exibida dentro do festival na seção Panorama, começa em 1951, quando a escritora viaja ao Rio de Janeiro na busca de inspiração e se aloja na casa de Mary, uma antiga colega de estudos, e de sua companheira, Lota.
A extrema timidez de Elizabeth contrasta com a sensualidade de Lota, que em um primeiro momento causa rejeição na poetisa. Mas esse sentimento inicial dá passagem para o amor em uma difícil relação a três, pois Mary não está disposta a renunciar a Lota.
Este "ménage à trois" se desequilibra quando Lota começa sua maior obra, o desenho do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, e Elizabeth embarca em um destrutivo consumo de álcool, com o golpe militar de 1964 como cenário.
Segundo Lucy, "foi o amor da maturidade", pois "Lota tinha 41 e Elizabeth, 40, e ficaram juntas por 15 anos".
"Acho que teriam ficado para sempre, se Lota não tivesse morrido", afirmou a produtora, para quem as duas mulheres "tinham tal intimidade" que "se falavam com o olhar, com sorrisos", de modo que observá-las se transformava em algo "especial".
A atriz australiana Miranda Otto, que no filme encarna a poetisa, confessou, por sua parte, que não sabia nada de Bishop quando recebeu o roteiro, mas que ao ler sobre ela teve a impressão de que teve uma "vida incrível".
Da esq. para a dir.: as atrizes Tracy Middendorf , Glória Pires e Miranda Otto, protagonistas do filme de Bruno Barreto, 'Flores raras' (Foto: Henrique Porto/G1)Da esq. para a dir.: as atrizes Tracy Middendorf , Glória Pires e Miranda Otto, protagonistas do filme de Bruno Barreto, 'Flores raras' (Foto: Henrique Porto/G1)
"Escrevi uma mensagem para Bruno (Barreto) e lhe disse, 'adoro estas duas mulheres', porque é muito pouco frequente encontrar roteiros sobre mulheres que são protagonistas tanto por sua inteligência como por sua sexualidade", revelou.
Uma das coisas que a fascinou no filme, acrescentou, "foi a ideia de duas artistas convivendo e o fato de que estejam apaixonadas mas também sintam tanta paixão por pelo que fazem".
Lucy Barreto disse ainda que foi testemunha da construção do aterro. "Penso que a luta de Lota não teve o merecido reconhecimento e pensei que devia fazer algo. Quando conheci Elizabeth, li seus poemas e senti admiração por eles e pensei que tinha que escrever algo sobre elas", explicou.
A produtora contou que o filme foi o sonho de sua vida durante 17 anos, após ter lido no Natal de 1995 o romance "Flores raras e banalíssimas" de Carmen L. Oliveira.
Após ler o romance, Lucy soube que quem devia interpretar Lota era a atriz brasileira Glória Pires, que ao receber dias mais tarde um exemplar da obra afirmou, ainda sem existir roteiro algum, que aquele papel era seu.
Lucy e Luiz Carlos Barreto durante a homenagem recebida na noite desta segunda (12), no Cinema Roxy, em Copacabana (Foto: Renato Marques/Divulgação)A produtora Lucy Barreto, com o marido Luiz Carlos Barreto, pais do diretor Bruno Barreto (Foto: Renato Marques/Divulgação)
"Gloria e Miranda são a essência do filme", afirmou Bruno Barreto na coletiva.
Em 2004, Bruno leu o romance de Oliveira, mas não tinha claro de que ângulo deveria enfocar a história. "O importante é o porquê querer contar uma história e eu queria falar sobre a perda. Estava passando pelo divórcio e talvez por isso surgiu o ângulo da perda", disse o cineasta.
"Flores raras" também se destaca por suas belas paisagens e fotografias e é uma das mais caras produções do cinema brasileiro da história, com um orçamento de cerca de R$ 13 milhões.
O Brasil está presente também nesta 63ª edição da Festival de Berlim com duas coproduções na seção Panorama, "Frances ha", de Noah Baumbach, com os Estados Unidos, e "Habi, a estrangeira", de María Florença Álvarez, com a Argentina.
Já a seção Generation, dedicada ao gênero infantil e juvenil, inclui os curtas brasileiros "Destimação", de animação, de Ricardo de Podestá, "O pacote", de Rafael Aidar, e "Xe tai cua bo", co-produzido com o Vietnã.
Além disso, o documentário "Hélio Oiticica", produção de seu sobrinho Cesar Oiticica Filho, será exibido na seção Fórum e se complementa ainda com duas exposições na capital alemã.
Fonte:G1

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