
Glória Pires
Qual é o seu nome completo? E a data e o local do seu nascimento?
Glória Maria Cláudia Pires de Moraes, nome de casada. Nasci em 23 de agosto de 1963, no Rio de Janeiro.
Qual é o nome dos seus pais? Que atividade desempenhavam?
Antônio Carlos Pires, ator, e Elza Marques Pires, um pouco de tudo: produtora, mãe, continuísta, acompanhante, tudo.
Sua mãe sempre acompanhou você nas gravações?
Sim, durante toda a minha infância. Meu pai também trabalhava em TV, então, ela ficava comigo nos estúdios; eu só podia gravar com ela perto.
Onde você estudou?
No Pueri Domus, que se chama agora Ceat [Centro Educacional Anísio Teixeira], no bairro de Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro.
Você chegou a fazer alguma escola de teatro ou de dramaturgia?
Fiz o curso do Jaime Barcelos. Freqüentei o Tablado durante pouco tempo, mas não a escola de teatro; fiz artes plásticas e acabava dando uma paqueradinha nos exercícios de teatro, mas não participava do curso.
Como e quando você começou sua carreira de atriz?
Quando tinha uns quatro ou cinco anos e atuei em A pequena órfã, novela produzida pela TV Excelsior e exibida pela TV Globo em São Paulo. Primeiro, meu pai me levou para participar da abertura dessa novela, e o Dionísio Azevedo, que era o diretor, gostou da minha imagem e perguntou se meu pai gostaria que eu fizesse parte da novela. Na trama, havia um orfanato com muitas crianças. E o meu pai concordou. Mas eu tinha um problema de hemorragia nasal. A iluminação era bastante forte, com âpanelõesâ de luz muito quente, e tive uma crise, comecei a botar sangue pelo nariz, e a gravação foi interrompida. Além disso, tinha uma personagem que era uma megera e, realmente, metia medo nas crianças. Fiquei muito impressionada com tudo aquilo, não só com ela, mas com todo aquele ambiente do estúdio, que me pareceu muito assustador mesmo, aí não fiz mais. Aos sete anos, voltei a participar de um teste na Globo, dirigido por Paulo José, se não me engano, para a novela O primeiro amor. Não passei nesse teste. Algum tempo depois fui fazer Selva de pedra.
Antes de Selva de pedra, você chegou a trabalhar numa novela chamada A muralha, da Ivani Ribeiro?
Não, era o meu pai que fazia A muralha, em São Paulo. Às vezes, eu ia com ele e ficava encantada, porque era realmente muito grandiosa. Talvez, por ser tão pequena, tudo se tornava maior do que realmente era, mas eu me lembro bem de uma escadaria e das atrizes Nathália Timberg, Fernanda Montenegro. O Stênio Garcia fazia um índio. Tinha o Mauro Mendonça, muitos atores maravilhosos.
Como e quando você entrou para a TV Globo?
Foi através desse teste para a novela O primeiro amor. Embora não tenha sido aceita de imediato, mais tarde fui chamada para fazer Selva de pedra. A partir daí, fiz outros trabalhos pequenos, simultaneamente, em linha de show.
Você se lembra do seu personagem em Selva de pedra?
Eu me lembro, a Fatinha. Ela era filha da Agnes Fontoura, uma viúva que morava na pensão da Fany. Heloísa Helena, a atriz maravilhosa, fazia uma ex-vedete que era dona dessa pensão, onde foi morar o Cristiano Vilhena [Francisco Cuoco] quando chegou ao Rio de Janeiro. Eu fazia parte do elenco que atuava nesse núcleo da novela.
Quantos anos você tinha?
Oito anos.
Você conseguia decorar o texto com facilidade?
Não, nada era tranqüilo. Eu ficava com muito medo de tudo, principalmente de errar. Mas o meu pai, que já tinha muita experiência, ele me ensinou a decorar. Antigamente, os textos vinham com marcações: os autores colocavam claramente as intenções de cada fala, onde deveria haver uma pausa, as mudanças de assunto, as palavras que precisavam ser reforçadas. Enfim, havia vários códigos no texto que recebíamos, e o meu pai me ensinava a ler aqueles códigos, a entender o que era aquilo.
Depois de Selva de pedra, você participou de que programas?
Trabalhei em Chico city muito tempo. Em Satiricom e Faça amor, não faça a guerra, fiz algumas participações, alguns esquetes humorísticos.
Como foi esse trabalho com humor?
Fazer humor é uma coisa muito complicada. E, naquela época, eu ainda não tinha muita experiência. A verdade é essa.
A novela seguinte foi O semideus, de Janete Clair. Como foi?
Tive uma pequena participação em O semideus. Só me lembro de que a Rosana Garcia era a minha irmã e que o Daniel Filho dirigiu a novela no início. Depois, ele trouxe o Walter Avancini de São Paulo, apresentou-o para todo o elenco, no estúdio, dizendo que se tratava de um diretor maravilhoso â muito exigente, mas que era incrível â e iria substituí-lo.
Três anos depois, você fez Duas vidas, outra novela da Janete Clair. Como era a sua personagem?
Eu era filha do Luis Gustavo, que fazia um personagem meio picareta, o bom picareta, um cara bacana que não dá sorte e acaba se envolvendo com uma mulher de vida meio duvidosa. Esse papel era da Arlete Salles, que sempre foi muito bonita, magra, elegante, e tinha que se caracterizar para ficar com um aspecto sofrido, de uma mulher destruída. Então, ela colocava culotes e usava uma barriga postiça. Uma interpretação incrível. Tinha também o seu Menelau, interpretado por um ator maravilhoso, o Sadi Cabral. Lembro muito bem uma cena em que dançamos uma valsa juntos. Foi inesquecível.
Nessa época, outras crianças trabalhavam como atores?
A princípio, tinha a Rosana Garcia. Depois, mais para frente, começaram outras crianças: Ferrugem [Luiz Alves Pereira Neto]; Carlos Poyart, que fez Duas vidas, se não me engano, e fazia o filho da Betty Faria.
Que lembranças você tem dos textos da Janete Clair?
As personagens que eu fazia eram praticamente participações, não tinham importância na trama, mas eu me lembro de assistir às novelas e de ficar muito impressionada. Selva de pedra, principalmente, que me prendeu muito. Eu achava incrível a Dina Sfat, a Regina Duarte e o Francisco Cuoco, aquele trio era o máximo, os mais lindos. Queria ser igual a eles, achava tudo de bom. Ainda acho. Nossa linda Dina, que já se foi, mas deixou uma história maravilhosa; o Cuoco e a Regina, que continuam esplendorosos. Lembro-me de assistir à novela, sem perder um único capítulo. A trama era muito empolgante. A Janete levou essa coisa do folhetim às últimas conseqüências. Não havia a cobrança que existe hoje, da novela ser real. Novela é novela, é folhetim. E se não for assim fica sem graça, não rola; é melhor ir ao cinema, ao teatro. E a Janete levava a história adiante, todo mundo ficava louco para ver o dia seguinte. Não tenho conhecimento dos números, mas Selva de pedra foi, sem dúvida, uma das grandes novelas em termos de audiência. Era uma comoção. Quando a Regina voltou, loura, e a Dina a prendeu dentro da casa... Era uma loucura aquilo, o máximo.
Dancinâ days também foi um grande sucesso. Como surgiu essa oportunidade para você?
Depois de Duas vidas, fiquei meio desiludida, em dúvida se queria mesmo ser atriz. Resolvi sair, não participar mais de programa humorístico, e cheguei a falar com meu pai que só aceitaria trabalhar em novela se fosse uma coisa muito legal. Não queria mais ficar fazendo por fazer. Um dia meu pai chegou em casa dizendo que o Daniel Filho estava realizando testes e havia dito para ele me levar lá. Fiquei morrendo de medo de participar de outro teste, ainda mais com o Daniel. Meu pai ouviu tudo e disse: âQue isso, minha filha? É só um teste: se não passar, não passou. Não vai ser a primeira vez. Vai lá!â. Minha mãe também deu a maior força, e eu fui. Quando cheguei, eu me deparei com tantas meninas, todas tão lindas, que cheguei a pensar: âAi, meu Deus, já dancei, já estou foraâ. Ficamos esperando o dia todo, demorou muito, até que eles foram fazendo uma pré-seleção e, no final, ficaram apenas cinco meninas, que já tinham alguma experiência: Lídia Brondi, Suzana Queiroz, Ticiana Studart, eu e mais uma quinta menina que não lembro quem era. Fizemos o teste. Uma podia assistir ao teste da outra, e teríamos que aguardar uma chamada em casa, porque o Daniel ia para Los Angeles, por causa do Oscar; o resultado só sairia quando ele voltasse. Eu já tinha tirado aquilo da cabeça quando minha mãe me acordou, um dia, dizendo que a produção havia telefonado para informar que eu tinha sido escolhida. Aí foi maravilhoso, mudou tudo dentro de mim, todos os medos que sempre tive de errar, de fazer feio; aquela aprovação foi uma espécie de carta de alforria: âTudo bem, ela sabe fazer, pode fazerâ. E atuei em Dancinâ days de uma outra forma. A boca seca, o coração disparado, a mão gelada, o estresse, tudo isso passou depois daquela nova oportunidade, daquele novo teste.
Como era a sua personagem?
A Marisa era uma adolescente mimadíssima pela mãe. No dia do casamento, ela descobre que aquela não era a sua mãe. A mãe verdadeira era uma mulher que ela até conhecia, e que tinha sido presidiária, uma situação dramática. Foi uma personagem muito rica, muito cheia de nuances. Nessa época, aconteceu uma coisa interessante: até então, os personagens adolescentes eram feitos por atores jovens ainda, é claro, mas mais velhos. A partir de Espelho mágico, se não me engano, houve um empenho em buscar atores com idade próxima à dos personagens. É claro que uma pessoa de 20 anos é muito jovem, mas, para fazer um personagem de 15, 16, é um salto enorme. Então, acho que o Gilberto Braga e o Daniel Filho foram muito corajosos, colocando adolescentes. O Daniel sempre foi chegado a um desafio, faz parte da personalidade dele. E isso, para mim, foi importantíssimo. É a novela que considero o marco da minha fase adulta, embora eu estivesse com 14 anos. Sem dúvida, esse trabalho deu um upgrade na minha vida, em todos os aspectos.
A sua relação com o público mudou, a partir daí?
Claro. Até então, eu era aquela menininha que fazia novela por causa do pai que era ator. E, a partir de Dancinâ days, eu tive a oportunidade de interpretar uma personagem importantíssima na trama. Isso intensificou a minha relação com o público.
Você já foi dirigida várias vezes pelo Daniel Filho. Fale um pouco sobre isso.
Daniel é uma das pessoas responsáveis pela modernização da teledramaturgia. Junto com Boni [José Bonifácio de Oliveira Sobrinho] e com o mais âpra frentexâ de todos, o Dr. Roberto Marinho. O Dr. Roberto sempre âcomprou todas as ondasâ, era ele quem bancava mesmo as idéias. Boni, com aquela visão de homem de publicidade, inteligentíssimo, tem uma afinidade de objetivos muito grande, e o Daniel acho que foi o cara que colocou tudo isso em prática, que propunha os temas mais incríveis. Basta ver o que foi feito naquela época, no final dos anos 1970: o seriado Ciranda cirandinha e Espelho mágico, escrita pelo Lauro César Muniz, que me impressionou muito, porque era uma novela dentro da novela, contava o dia-a-dia dos profissionais ligados aos meios de comunicação. Mostrava o cotidiano, mesmo: o Tarcísio Meira e a Glória Menezes escovando os dentes, por exemplo. Havia a enorme preocupação de trazer a realidade das pessoas para dentro do folhetim. Os jovens deviam se vestir como qualquer outro jovem. Daniel não deixava pentear o meu cabelo, porque não queria que ficasse com aquele aspecto de menininha arrumada, não deixava passar maquiagem e, às vezes, pedia para que trouxéssemos coisas nossas. A figurinista Marília Carneiro me perguntava: âVocê não tem uma bata ou uma calça jeans velha?â. Daniel foi o cara que trouxe todo esse movimento, que âdescristalizouâ a novela, que, até então, tinha uma referência muito mexicana, âarrumadinhaâ, toda dentro dos padrões, e as novelas que ele dirigiu sempre tinham algo diferente. Em Dancinâ days foi montada uma boate dentro do estúdio. Ele usava recursos tecnológicos, as novidades todas, botava âpra quebrarâ.
Que outras lembranças você tem daquela época de Dancinâ days?
Tenho as melhores lembranças. Foi uma época muito bacana, um trabalho extremamente prazeroso, mas muito cansativo, também. Para se ter uma idéia, com Dancinâ days começou a ser discutida a lei de carga horária dos atores. Até então, tínhamos uma visão muito romântica do trabalho, não víamos a TV Globo como uma empresa; para mim, era um desdobramento da minha casa. As possibilidades da mídia, os subprodutos, tudo isso ainda não estava tão claro.
E como era a sua relação com as diversas mídias?
Cléo [Cléo Pires], minha filha, às vezes me faz essa mesma pergunta. Andei olhando umas entrevistas antigas e dei para ela ler. Claro que existia revista de fofoca também, mas o interesse era diferente, havia mais respeito à nossa privacidade. Não tinha essa loucura de misturar tudo, de ter, de repente, uma pessoa seguindo você para fazer entrevista na sua hora de lazer, num parque, com os filhos.
Naquela época, a telenovela já atingia uma audiência impressionante. Como era a sua relação com o público?
Na época de Dancinâ days, o Laurinho Corona e eu viajamos o Brasil todo fazendo desfiles para uma famosa marca de jeans. Em cada cidade que chegávamos era uma loucura, víamos um monte de Marisinhas com a franjinha, lacinho na cabeça, a meinha de lurex; outras com a roupa da Sônia Braga. Tinham muitos clonezinhos. E era um barato, era uma coisa completamente nova para nós.
E hoje, como você lida com essa superexposição proporcionada pela TV?
O fato de ter começado muito nova e numa época tão favorável, tão mais tranqüila, acho que me ajudou muito. Nós vamos aprendendo com a idade, aprendendo a ouvir bobagens sem se preocupar em responder. A garotada que está começando agora fica muito louca com as injustiças; são opiniões supererradas a seu respeito, julgamentos equivocados, e até levianos, que os deixam desesperados, querendo desmentir, dizer que não é nada daquilo... Mas não adianta: quanto mais atenção for dada, mais histórias vão surgir. Então, acho que fui favorecida também nesse aspecto. Hoje, tenho uma vida tranqüila, graças a Deus. Posso escolher as coisas que vou fazer, sou convidada para trabalhos bastante interessantes e, além disso, minha vida afetiva está muito bem resolvida; tenho os quatro filhos que queria, então, está tudo certo. O que conta mesmo é o trabalho que você faz, é o tempo. O tempo mostra quem você é, o que você é, o que você pensa, seu jeito de ser. O tempo põe as coisas no lugar.
Depois de Dancinâ days, você protagonizou Cabocla. Como foi esse trabalho?
Um grande desafio, por ser uma novela de época. Antigamente, não tínhamos suporte: os coachings, as pessoas que ensinam os atores a falar, a sentar-se. Eles fazem milhões de exercícios, pequenos laboratórios, sugerem leitura de textos... Enfim. Hoje em dia, somos inseridos na época em que a novela transcorre. Quando fiz Cabocla, não havia nada disso. Mas a história era linda, muito romântica, inocente até. E o diretor era o Herval Rossano, um grande profissional. As pessoas falavam: âCuidado com o Herval!â. Ele sempre foi, realmente, muito rígido comigo, mas é um grande profissional, que me ensinou muito, tenho o maior carinho por ele; fizemos, depois, outros trabalhos juntos, é uma pessoa que guardo no meu coração.
Depois você fez Água viva, do Gilberto Braga. Como foi?
Em Água viva, voltei a me encontrar com o Gilberto, e foi mais legal ainda, porque era uma história contemporânea. Eu fiz a Sandra, filha de um cirurgião plástico, superbacana, que era o Raul Cortez, e a mãe era a Tetê Medina, que morria num acidente de lancha. O Gilberto sempre levanta umas questões muito atuais. Lembro-me de uma discussão em torno da vocação e do talento, no caso de médicos, porque o universo era este: a influência familiar versus a opção individual; a pessoa que não tem nenhum médico na família, mas possui a vontade de abraçar aquela profissão, é talentoso, vai em frente e acaba se dando bem. Ele discutia todos esses assuntos sem levantar nenhuma bandeira, sem fazer disso a razão da novela, mas com muita inteligência, com muita sutileza. Gosto das tramas do Gilberto. Acho que ele sabe dosar bem a realidade com o folhetim.
A sua personagem lançou moda, usava um brinco. Você se lembra disso?
Lembro muito bem. Era um brinco com o formato de um raio. E a história desse brinco é a seguinte. A Tônia Carrero e eu estávamos trocando de roupa para entrar em cena, e ela me falou: âGlorinha, olha esse brinco aqui. Um joalheiro me mandou, achei muito jovem para mim, mas pode ficar muito bacana em vocêâ. O meu cabelo estava muito curtinho, eu coloquei o brinco e, realmente, ficou bem legal. E aquele raio acabou virando uma febre. Percebi o potencial da televisão: em todo lugar tinha aquele brinco, em qualquer loja, todo mundo usava. Que coisa engraçada.
Você foi dirigida pelo Paulo Ubiratan e pelo Roberto Talma. Que lembranças você tem do trabalho de direção deles?
São estilos totalmente diferentes. Confesso que ficava sempre esperando uma coisa mais louca, por estar muito habituada a trabalhar com o Daniel Filho. Ele sempre tinha umas propostas... De repente, fechava o estúdio: âVamos fazer um laboratório de alguma coisaâ, e começávamos a falar um texto. Ele queria criar, desamarrar. E o Talma era bem assim, também, bem doido, no sentido de querer coisas novas, de buscar propostas ousadas. Já o Paulinho Ubiratan era mais seguro, um cara mais reservado, mais metódico, talvez.
Depois de Água viva, você fez As três Marias. Qual era a sua personagem?
Era a Maria José, uma das três Marias. As outras eram Maitê Proença, que fazia a Maria da Glória, e Nádia Lippi, que fazia a Maria Augusta. Foi um trabalho muito confuso, porque o autor, Wilson Rocha, parece que teve um problema de saúde e foi substituído pelo Walther Negrão. Mas até o Walther entrar, o Herval ficou escrevendo e dirigindo. Foi uma época muito conturbada. Depois, o Negrão continuou a novela, que era uma adaptação de um romance da Rachel de Queiroz, e deu uma virada, transformando-a numa trama policial. Mas acho que a audiência ficou prejudicada. Conseguimos chegar ao fim com todo mundo se dando bem, em alto-astral. Não foi uma novela maravilhosa, não, mas foi trabalhosa.
E Louco amor?
Louco amor foi muito bacana. Era a história do José Lewgoy, um milionário que se apaixona pela manicure, que era a Lady Francisco. O tema era o amor entre pessoas de diferentes classes sociais. A minha personagem, Cláudia, era uma jornalista que estava se formando. Pobre, batalhadora, corria atrás de matérias, dava um duro danado. Era ambiciosa. Conseguiu um emprego numa revista, e se envolve, por interesse, com o Lipe, que quem fazia era o Lauro Corona.
Partido alto. Como foi o seu trabalho nessa novela?
Com Raul Cortez, de novo, que interpretava o bicheiro Célio Cruz. A minha personagem, Celina, era a filha dele e tinha uma paixão platônica pelo professor Maurício, interpretado pelo Cláudio Marzo. Guilherme Karan fazia um guru esotérico, espertalhão, chamado Políbio, que foi um grande sucesso. A proposta dos autores Glória Perez e Aguinaldo Silva era bacana. Mas não sei se houve algum conflito entre eles, e o Aguinaldo saiu. Glória continuou escrevendo sozinha até o final. Houve um momento confuso por causa disso. Novela é uma loteria, nunca se sabe o que vai acontecer. A equipe torce para que seja maravilhoso, todo mundo veste a camisa, dá o melhor de si, mas são inúmeras variáveis. É muito tempo, também, quase um ano, nem sempre a coisa vai para o lado que se espera.
Depois, você fez uma personagem importante na minissérie O tempo e o vento. Como foi esse trabalho de composição?
Essa personagem foi bem batalhada. Era a Ana Terra. Eu estava ainda atuando em Partido alto, quando as gravações dessa minissérie começaram, em Porto Alegre. Eu me encontrei com a Carla Camurati, que, na época, estava casada com o Paulo José. Ele era o principal diretor da minissérie, e a Carla comentou que o Paulo achava que eu me encaixava bem no papel de Ana Terra. Imediatamente, fui falar com o Daniel Filho: âOlha, estou sabendo que o Paulo quer que eu faça... Eu gostaria de fazer a personagemâ. Assim, eles negociaram com a Glória Perez. No princípio, foi bem difícil conciliar, mas acabou dando tudo certo. Era uma rotina muito puxada, porque a Cléo já havia nascido. Eu gravava a novela e, nos intervalos, viajava para o Sul, onde gravava O tempo e o vento, uma trama maravilhosa, uma superprodução de grande importância histórica. O tema central era a formação do estado do Rio Grande do Sul, mostrada através das diversas gerações da família Terra Cambará. A trama girava em torno de quatro histórias. Uma delas era a da minha personagem, Ana Terra, que fazia um contraponto à luta pela conquista da fronteira, mostrando situações afetivas, como a maternidade, a fidelidade. Fiquei muito honrada em participar desse trabalho. O resultado final foi espetacular. A TV Globo, quando assume uma produção, tem um diferencial, realmente. A trilha sonora é do Tom Jobim. E foi construída uma cidade cenográfica enorme. Enfim, um trabalho gratificante, inesquecível.
Você destaca alguma cena dessa personagem ou da minissérie?
Todas as cenas da Ana Terra são emocionantes. Tem a cena da invasão dos castelhanos, que foi bem difícil de fazer. A cena do parto, quando ela tem o filho sozinha, é muito bonita. Mas o lance mais legal foi ter aprendido a fiar, tirar a lã e fazer o fio na roca, que é bastante difícil, e eu consegui aprender. Louise Cardoso também, nós duas conseguimos! Na direção, tinha uma turma da pesada: Paulo José, Walter Campos, Denise Saraceni e Luiz Fernando Carvalho, que era assistente de direção da Denise. Se não me engano, foi a partir daí que ele veio para a Globo. Então, foi um trabalho que deu ótimos frutos.
Você destaca alguma coisa no trabalho desses diretores?
Quem me dirigia mais era a Denise. Acho que como eram algumas frentes, de várias épocas, cada diretor ficou com um núcleo. Denise sempre foi muito delicada, muito firme no que ela quer, mas com muita delicadeza, uma pessoa fácil de trabalhar. Nesse trabalho, nós nos dávamos muito bem.
Depois da Ana Terra você fez a Rosália, uma personagem doce, que era o oposto. Como foi esse trabalho?
A novela Direito de amar foi inspirada numa radionovela da Janete Clair. Foi um trabalho lindo, ambientado no Rio de Janeiro do início do século XX. Rosália foi obrigada a se casar com um banqueiro chamado Francisco Monserrat, interpretado pelo Carlos Vereza. Mas, num baile de máscaras, ela se apaixona por um rapaz, sem saber que ele era filho do tal banqueiro. Esse rapaz, o Adriano, era interpretado pelo Laurinho Corona. A novela era cheia de mistério: a Ítala Nandi era uma mulher tida como louca, e o Monserrat a mantinha presa num dos quartos de sua casa. No final da novela, descobre-se que ele não era viúvo e que ela era a mulher dele. Edney Giovenazzi fazia meu pai, Ester Góis, minha mãe, e Beth Goffman era uma espécie de criada. Foi um trabalho lindo. A cidade cenográfica era belíssima, foram reproduzidos detalhes da arquitetura de época. Os figurinos do Paulo Lois eram deslumbrantes. Essa novela foi um marco, também.
Que lembranças você tem da gravação desse baile de máscaras?
Fizemos lá em Petrópolis. Baile, festa, casamento, sempre é muito chato, porque a gravação demora, é confusa, temos que ficar arrumados por longo tempo, não dá para relaxar um minuto. Mas o resultado sempre compensa; tudo vale a pena. E essa novela foi linda. Adoro a belle époque. E essa festa de passagem de século foi considerada um dos momentos mais bonitos da telenovela brasileira.
Que lembranças você tem do ator Lauro Corona, que contracenou com você em Direito de amar e em outras novelas, também?
Laurinho nunca foi apenas meu colega de trabalho. Foi meu amigo, era meu irmão. Depois de Dancinâ days, fomos vizinhos. Ele comprou um terreno ao lado do meu. Construí primeiro a minha casa, e ele construiu a dele depois. Ficamos amicíssimos para sempre. Tenho as melhores lembranças, sempre penso nele com imenso carinho. Morreu jovem, mas Deus faz tudo certo.
Depois veio Vale tudo, do Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Você fez a vilã Maria de Fátima. Como você compôs essa personagem?
Maria de Fátima foi um presentão. Todo o movimento dela, de sair lá de Foz do Iguaçu, deixar a mãe na miséria, sem nada, vender a casa da mãe e sumir no mundo. Para mim, ela não era só uma vilã; era uma pessoa amoral, louca, desregulada. Mas, também, uma personagem muito legal de fazer, muito bacana, porque, nos momentos mais improváveis, ela caía em si, tinha crises de consciência. Não podia ir ao enterro do pai, mas sofreu por não ter ido. Achava o pai um fracassado, mas era o pai dela. E como ela tinha inventado uma história de que vinha de uma família que não era a dela, o que estaria fazendo ali no enterro daquele homem? Então, tinha esse lado humano, que eu adoro e que deu mais sabor à Maria de Fátima.
Você se lembra de alguma cena marcante?
Lembro-me de várias cenas. Uma delas foi a do primeiro capítulo: uma discussão com o avô e com a mãe sobre ética e moral. Foi um momento histórico da televisão, porque retratava o Brasil de forma nua e crua. A novela foi exibida em 1988, época em que as bandalheiras políticas estavam vindo à tona; a anistia se solidificando, os exilados voltando. Falava-se da repressão, a censura tinha acabado. Então, surge a novela tratando de problemas sociais bastante sérios, de maneira muito direta. Essa cena foi especial, inesquecível. Tive a sorte de contracenar com Sebastião Vasconcelos e Regina Duarte, duas feras. A Regina era a minha mãe, e as brigas que a filha tinha com ela também foram marcantes. Lembro-me muito bem da cena do casamento, em que ela rasga o vestido de noiva da Maria de Fátima. O final da novela também foi surpreendente: Maria de Fátima casa-se com um príncipe italiano, que, na verdade, era gay. Esta foi mais uma tramóia do César [Carlos Alberto Riccelli], com quem ela mantinha um caso. Aquilo foi muito bem pensado, muito propício, e ela conseguiu o seu objetivo, que era subir na vida a qualquer custo. Era amoral mesmo, então, valia tudo.
Qual foi a repercussão desse trabalho, a reação do público?
Foi maravilhosa, incrível. Mesmo sendo amoral, Maria de Fátima conseguiu conquistar o público. Como o comportamento dela não era maniqueísta, as pessoas ficavam na dúvida sobre sua personalidade e me perguntavam se ela iria mudar ao longo da novela. Às vezes, até se identificavam com algumas atitudes, e me abordavam na rua para dizer que, no lugar dela, teriam agido da mesma maneira. O mais bacana foi que, por meio dessa personagem, e pela temática da novela, muitos assuntos importantes foram discutidos.
Você tem lembranças da ação da censura na televisão?
Lembro-me de comentários: âo capítulo ainda não voltou... Foi para a censura e ainda não voltouâ. Como meus personagens eram pequenos, eu não me recordo de ter ouvido: âEssa cena foi cortada, não podeâ. Nunca tive que regravar nada por causa da censura.
No início da década de 1990, você fez a personagem Sarita, em Mico preto. Como foi essa novela?
Uma comédia! A idéia era fazer uma coisa inspirada no Pedro Almodóvar, essa época foi a explosão do Almodóvar. Então, os autores e diretores queriam fazer uma novela louca. Não simplesmente uma comédia, mas uma comédia nonsense. Eu fazia a Sarita, uma garota de programa que namorava um homem puro, bobo, até meio fora da realidade, o Firmino, interpretado pelo Luis Gustavo. Foi também uma experiência muito bacana, embora tenha sido uma novela difícil de fazer. No meu núcleo da trama, os diretores eram Dennis Carvalho e a Denise Saraceni. E os atores eram Deborah Evelyn, Miguel Falabela, José Wilker, Louise Cardoso, o próprio Tatá [Luis Gustavo], enfim, era uma turma tão animada, a gente se divertia demais! Houve uma cena que ninguém conseguiu gravar. Eu não estava nesse dia, mas soube que eles tiveram uma crise de riso. Era uma cena com umas oito, dez pessoas, que começaram a rir e não conseguiram gravar. Teve que sair todo mundo do estúdio, parar para um cafezinho e, dez minutos depois, voltar para finalizar.
Você gosta de fazer personagens cômicos?
Gosto de tudo. Mas o mais importante é que seja um bom projeto e com pessoas bacanas. Gosto de possibilidades. Procuro sempre coisas novas, novos horizontes, novas formas de realizar aquilo que já faço há tanto tempo, principalmente na televisão. De certa forma, tenho medo de ficar rotulada. Felizmente, sempre tive boas oportunidades de fazer trabalhos interessantes, de lidar com propostas totalmente diferentes, como foi a Sarita, com aquelas unhas postiças, figurino extravagante, maquiagem super, hiper, mega, aquela mulher over em todos os aspectos. Foi muito bacana, uma experiência muito rica.
A seguir, você fez a personagem Estela, em O dono do mundo. Quais são as suas lembranças dessa novela?
A Estela era uma mulher muito sólida, muito consciente do seu papel de esposa de um grande cirurgião plástico, de uma estrela, que era o personagem do Antônio Fagundes, o Felipe Barreto. Então, já voltou mais para a minha praia, era uma mulher contida, silenciosa, plácida, que também passa por mudanças: queria voltar a estudar, trabalhar, estava sentindo a vida vazia. Ela só paparicava o marido, não tinha vida própria. Para criar o clima da novela, o Dennis se inspirou no filme Someone to watch over me [Perigo na noite, do diretor Ridley Scott], acho que era esse o título, com a Mimi Rogers e o Tom Berenger, um filme de ação, policial, suspense. E fomos construindo a personagem também em cima daquele clima do filme: a busca dessa suntuosidade, dessa elegância, dessa placidez, porque, depois, a sua vida vira um turbilhão. Ela descobre que o marido teve um caso com a Márcia, a personagem da Malu Mader. Ele se transforma no vilão da história, e ela se separa dele, fica sem nada, vai trabalhar, morar sozinha, reconstruir a sua vida e, no final, encontra um grande amor, que era um amigo de infância dela, com quem acaba tendo o filho tão esperado. No final da novela, eu estava grávida da minha segunda filha.
O trabalho seguinte foi um marco na sua carreira, Mulheres de areia.
Sem dúvida. Tive que fazer uma pesquisa sobre o que é ser gêmeo, entrar nesse universo muito louco, muito explorado pela dramaturgia, literatura. Para isso, entrevistei gêmeos que trabalhavam juntos, que eram sócios, e vários outros. Essa pesquisa foi fundamental. É claro que não podemos interferir no que o autor escreve, mas esse material recolhido na pesquisa foi muito importante para entender as duas personagens que eu interpretei. Até então, nunca havia pensado nessa questão de gêmeos, uma pessoa passar por outra, achava que ninguém fazia aquilo, mas a maioria dos gêmeos me disse que isso é muito comum. De acordo com a necessidade, muitos se passam pelo outro. E eu tive que descobrir como isso se dá, tive que entender esse universo totalmente novo para mim.
Que elementos você usou para diferenciar as gêmeas Ruth e Raquel?
A doçura da Ruth tinha que ser bem dosada. Não queria fazê-la açucarada, melosa, queria uma docilidade real, tangível, e para isso foi muito importante assistir ao trabalho da Eva Marie-Saint em Sindicato de ladrões, com Marlon Brando. Ele era o personagem que se debatia com uma série de questões; ela representava o porto seguro, o esteio dele, mas agia com muita docilidade. Buscar essas referências é fundamental. Cinema demora dois meses, três, no máximo, se for um filme imenso, uma superprodução. Novela leva quase um ano, é um período muito longo, várias coisas acontecem na sua vida: a pessoa que começou a novela, fatalmente, não vai ser a mesma ao final das gravações. É preciso ter pontos de apoio. Dependendo do personagem, algo mais visual. Às vezes, até mesmo um perfume ajuda a me manter naquela idéia primordial. É muito instintivo, varia de personagem para personagem, mas levo sempre alguma coisa para a novela, algo que não me deixe sair daquela idéia do início da construção da personagem.
No caso de Ruth e Raquel, o que mais ajudou você a demarcar essas identidades?
Figurino, maquiagem, tudo ajudou demais. A Elza Pontes, que fez o cabelo, sacou uma coisa muito bacana: a Ruth usava sempre o cabelo dividido no meio, e ela fez umas mechas que só apareciam quando o cabelo estava dividido no meio, isso dava uma ligeira nuance. Como a Raquel só usava o cabelo mais solto, mais de lado, mais provocante, essas mechas não apareciam. Embora fosse a mesma cor de fundo, o mesmo tamanho, por incrível que pareça, isso diferenciava ligeiramente as duas. No figurino, a Marília Carneiro criou roupas longas para as gêmeas, mas os vestidos da Ruth eram mais despojados, e a Raquel usava sempre uns acessórios. Isso estabelecia a diferença. Foi uma novela complicada de realizar. Para gravar as cenas em que as gêmeas atuavam juntas, foi utilizada a técnica do chromakey, associada a um outro recurso no computador para facilitar a edição. Mas isso foi resultado de uma exaustiva pesquisa do diretor Carlos Magalhães. No início, todo mundo apanhou muito. Os diretores Wolf Maya, Carlos Magalhães e Ignácio Coqueiro ficavam enlouquecidos.
O Wolf Maya contou que você guardava a continuidade das duas, que sabia exatamente como uma das gêmeas estava no final da cena, e isso facilitava a posição no chromakey para a entrada da outra.
Era tudo muito, muito trabalhoso. Toda atenção era pouca. Existia um segundo cenário todo em chromakey, todo em azul, as cadeiras, a mesa, era tudo reproduzido para ser inserido depois, na edição. Passamos por várias tentativas, procedimentos, e não tinha jeito, eu precisava visualizar a cena toda. E a dublê também, a Graziela di Laurentis. Nas cenas em que uma das gêmeas estava de costas, quem gravava era ela. Mas conseguimos superar todas as dificuldades e fazer cenas incríveis, do tipo: as duas pegarem a fruta da mesma fruteira em momentos diferentes, ou uma dar um tapa na cara da outra. Ensaiávamos tudo, e eu colocava pontinhos de fita crepe pelo cenário para saber até onde caminhar, onde parar, porque qualquer deslize nas gravações prejudicava a edição.
Essa disciplina você aprendeu também com seu pai ou foi desenvolvendo ao longo da sua carreira?
Sempre fui muito disciplinada, é da minha personalidade. Mas meu pai era disciplinado, e minha mãe também é, e eu fui me aprimorando com o tempo, fui aprendendo como fazer.
Você chegou a ver o trabalho da Eva Wilma como Ruth e Raquel na TV Tupi?
Não. Na época da novela, preferi não assistir. O fato é que sou fã da Eva Wilma e não queria vê-la porque achei que isso poderia me atrapalhar. Podia ficar tão embevecida com o trabalho dela e me bloquear. Mas, em outros momentos, cheguei a ver alguns trechos que passaram em programas comemorativos. Eva Wilma é uma atriz incrível, maravilhosa.
Memorial de Maria Moura. Como foi esse trabalho?
Tenho lembranças muito boas de um trabalho árduo, talvez o mais difícil que tenha feito na TV Globo. Gravávamos em fazendas, e não podia ter poste de luz, barulho de estrada. Era complicadíssimo gravar com muitos animais em cena, pois se tem que refazer várias vezes. O figurino de época é quente, pesadíssimo. Levamos quase cinco meses gravando. Houve uma mudança de locação das cenas da fortaleza de Maria Moura, que passaram a ser feitas em Friburgo ou Teresópolis, um lugar deslumbrante, realmente, mas de acesso complicado. Mesmo assim, fazíamos o trajeto diariamente. Era uma estrada de terra, cheia de curvas perigosas, tinham os nossos ônibus, levávamos gerador, aquela parafernália toda para ser montada lá em cima do morro, foi uma coisa complicadíssima. Tive que aprender a manejar armas, a cavalgar, e um monte de coisas que não faziam parte da minha vida, mas foi muito bom. Acho que nunca perdemos nada aprendendo, estou sempre disposta a adquirir novos conhecimentos. E isso tudo me valeu muito porque, depois dessa experiência em Memorial de Maria Moura, eu comprei uma fazenda, aí fui vivenciar tudo que havia aprendido na minissérie.
E o perfil psicológico da Maria Moura, como é que você trabalhou isso?
Maria Moura perde o pai na infância e, aos 17 anos, encontra a mãe morta. O provável assassino era o padrasto, que a seduz. Então, desde muito jovem ela era obstinada. E fez tudo para se livrar desse homem. Ela não pensou duas vezes: seduziu o amigo de infância, o escravo, dando-lhe a ilusão de que, se o padrasto fosse morto, eles poderiam viver uma história de amor. Depois, não titubeia ao dedurá-lo para a polícia. Então, aquela heroína seca, no final, se oferece em sacrifício para que a fortaleza fique intacta. E a Maria Moura vai ao encontro do exército, junto com o braço direito dela, que era o Chico Diaz, o irmão dela, vamos dizer assim, e segue para enfrentar a polícia, o exército, sabendo que estava se entregando para que aquela estrutura permanecesse. Então, ela era uma heroína cheia de defeitos, mas humana. Não é a heroína pura, a que promete casamento para o amigo de infância e vai cumprir; não, ela o bota na linha de fogo para sair dali e buscar o Eldorado, o lugar de que o pai falava, e do qual ela tinha uma imagem esculpida, aquele lugar do sonho, da salvação dela. Esta era a Maria Moura.
Quais são as diferenças, para o ator, entre atuar em novela e minissérie?
A última minissérie que fiz foi O tempo e o vento. Para mim, não houve diferença nenhuma, porque gravamos durante muito tempo. Mas as minisséries dão muito prestígio e, depois, existe sempre a possibilidade de gravar em DVD. Não sei por que não fazem isso também com as novelas. Podiam fazer um resumo e colocar em DVD.
Você pode contar a sua experiência com a personagem Marieta, da novela O rei do gado?
Um calvário. Foi um desacerto total. Acontecem trabalhos em que existe aquele encontro maravilhoso, e em outros, não. Nesse trabalho tive a sorte de rever Raul Cortez e Walderez de Barros, que é uma deusa. Então, nesse aspecto, foi maravilhoso.
Na segunda versão de Anjo mau, você interpretou a personagem Nice. Como foi?
Quando passou a primeira versão, em 1976, eu era criança e não assisti porque tinha medo, talvez por causa do nome. Lembro-me de que a capa do LP da novela era toda preta, com um carrinho de bebê vermelho. Eu tinha pavor daquilo. Quando me chamaram para fazer a segunda versão, fiquei muito curiosa em entender o que era a história dessa babá, a Nice, porque, na minha fantasia, ela fazia coisas horríveis com aquela criança; afinal, o nome era Anjo mau. Depois, vi que não era nada disso, que ela era um anjo mau porque teve a ousadia de, sendo babá, apaixonar-se pelo patrão, um galã, rico e disputadíssimo pelas mulheres. Além disso, as artimanhas que ela usou para seduzir esse homem, para tirar as outras do caminho dela, renderam-lhe o título de anjo mau. Mas ela era uma sonhadora, loucamente apaixonada por aquele homem. No final da primeira versão, ela morria no parto. Mas a segunda versão dá margem a uma outra interpretação, que não fica muito clara, mas dá a entender que eles ficaram juntos, tiveram filhos e foram felizes para sempre.
Em Suave veneno, você interpretou duas personagens: Inês e Lavínia.
Esse veneno também não foi nada suave. Esse veneno foi brabo, porque eu precisava entender o que estava fazendo ali, precisava entender o porquê da cena, o porquê de certa fala. Às vezes, isso estava muito claro, mas outras vezes, não. Então, era indispensável eu saber, até para fazer de conta que não é nada do que era. Era necessário entender o que o autor queria realmente, qual era a idéia dele: se ela era realmente Lavínia ou se era realmente Inês, se tinha mesmo perdido a memória; se ela era uma louca, se ela estava tramando alguma coisa; se aquela segunda mulher que apareceu era ela ou alguém igual a ela. Eu precisava saber disso e não consegui essas respostas em nenhum momento da novela. Então, foi difícil, foi muito difícil para mim.
No ano de 2002, em Desejos de mulher, você fez uma dona de casa, mãe, chamada Júlia Moreno.
Mãezona, supermulher, feliz, resolvida, levando uma vida muito prosaica até, em contraponto com a da irmã, estilista famosa, uma mulher poderosa, conceituada. Júlia teve seu marido, interpretado pelo Cassinho Gabus Mendes, preso, acusado de envolvimento numa história de lavagem de dinheiro. Ela se vê perdida, sem nunca ter trabalhado, sem ter como se sustentar, e vai à luta em busca de um emprego. Primeiro, trabalha numa revista, como secretária, e depois vai ganhando outros espaços, até que se torna diretora da revista. Foi uma novela que deixou saudade. Adorei contracenar com o Eduardo Moscovis, com quem não havia trabalhado antes.
Nessa novela, você voltou a trabalhar com a Regina Duarte e foi dirigida, mais uma vez, pelo Dennis Carvalho.
Exatamente. Inclusive, na primeira cena em que nós estivemos juntos, foi uma emoção só. E o Dennis falou: âEu já vi esse trio antes. Vamos ter grandes cenasâ. Isso acabou não acontecendo com a mesma intensidade de Vale tudo, mas foi bacana, gostoso de fazer. Tinha uma equipe muito legal, as pessoas foram ótimas.
Como foi viver uma outra Júlia, em Belíssima?
Essa personagem foi muito legal, porque eu já não fazia novela há algum tempo. Tinha tido mais um bebê, meu quarto filho, estava vindo de uma temporada longa vivendo em Goiânia, com todo tempo do mundo para mim, meus filhos, minha casa, e estava louca para voltar a trabalhar, rever as pessoas, fazer novela. Depois, gostei muito da experiência de trabalhar com Silvio de Abreu, porque além de ser um autor muito generoso, ele se envolve pessoalmente com os atores. E a personagem foi bem no estilo que eu gosto, uma mulher que tem um perfil e, dentro dessa história, sofre várias modificações, passa por vários momentos, o tudo ou nada, que é muito bom fazer. Adoro dar essas viradas. E além da personagem, tive a possibilidade de contracenar com pessoas que amo: Fernanda Montenegro, que no dia-a-dia é uma pessoa incrível, maravilhosa; com o Pepe [Pedro Paulo Rangel], novamente, depois de Vale tudo; encontrar Denise Saraceni, também, foi muito gratificante. A equipe toda trabalhava satisfeita. Gravei muito e, em nenhum dia, cruzei com alguém que estivesse triste ou insatisfeito. Silvio desenvolveu todas as tramas, era um elenco grande, vários núcleos, todos de certa forma se misturaram, e o lado policial também foi muito interessante para a novela. Foi um encontro maravilhoso. Adorei trabalhar com Marcello Antony, Letícia Birkheuer, uma graça de menina, superséria, esforçada. Foi uma grande experiência.
Que cenas você destacaria?
A parte toda do calvário da Júlia, quando ela descobre a traição do marido, que traz as lembranças da infância dela, a culpa pelo acidente dos pais. Ela relembra tudo, refaz a imagem da mãe, que ela achava uma megera. Foi um momento emocionante demais. Depois, o sofrimento todo, quando ela volta para casa e encontra a filha com seu marido na cama. Bota os dois para fora, mas sofre pela traição do marido e da própria filha. Foi tudo muito sórdido. A reaproximação com o Nikos, aquele homem bom, fiel, uma pessoa que deu a mão para que ela pudesse se levantar e, finalmente, perceber que ele era o seu grande amor. Foi um movimento bonito da personagem.
Você foi à Grécia junto com a equipe da novela?
Duas vezes. A primeira vez, ficamos um mês. Sempre fui louca para conhecer a Grécia e a Índia, desde muito criança. Quando soube que gravaria, pensei: âNão vai dar para ver nadaâ. Isso porque as gravações externas, em geral, são superpuxadas, vai uma equipe reduzida, usa-se muito material, enfim, tudo é muito complicado. Quando viajei, pensava, ainda, que gravaria e não aproveitaria nada do lugar. Graças a Deus, eu me enganei, porque aproveitei muito, conheci lugares lindos, incríveis. A Grécia é, realmente, um país deslumbrante, e isso ficou na novela, a energia daquele lugar, aquele azul ficou muito forte durante toda a novela. Até mesmo quando acabou a parte da Grécia, ainda tínhamos aquela sensação do paraíso. E o final foi mais incrível ainda, porque levamos uma semana entre gravar e voltar, com direito a rapel. Para gravar a última cena no alto da montanha, nós tivemos que escalar. Foi incrível, uma experiência que nunca imaginei que teria na minha vida, mas isso é uma das coisas que mais adoro nessa profissão. Comentei com o Carlinhos Araújo, o diretor das cenas na Grécia, que, se não fosse a gravação, eu nunca teria subido naquela montanha. Não sou adepta de esportes radicais, mas, por obrigação, faço. Quando o Tony Ramos viu o paredão que tínhamos que escalar, ele falou: âEu sou avôâ. Respondi: âTenho quatro filhos, sendo que um é ainda bebê e precisa de mimâ. Mas foi um clima maravilhoso, finalizamos aquela novela linda, de uma energia incrível, naquele lugar realmente mágico.
Como a equipe se preparou para os capítulos finais, para não estragar o suspense da novela?
O desfecho foi mantido em segredo. Eles fizeram uma reunião só com os diretores de cada área. Só recebemos os textos das últimas cenas â essas que gravamos na Grécia â dentro do avião, depois que levantou vôo. Assim mesmo, só recebemos as nossas cenas, sem o restante do capítulo. Não sei se já estava escrito, mas havia várias versões do final feitas pelo Silvio. O sigilo foi mantido até para nós. Quando fomos experimentar a roupa do casamento, a Gogóia [Geórgia Sampaio] e a Ro Gonçalves, as duas figurinistas da novela, falaram: âA gente tem que experimentar mais opções, porque, na verdade, não sabemos o que vai acontecer. Pode ser que tenha um casamentoâ. Foi tudo cercado de mistério.
A que você atribui o sucesso da novela?
Acho que foi uma novela muito bem realizada. O pano de fundo era o universo da moda, e houve muito cuidado em todos os aspectos. Foram contratadas pessoas e empresas ligadas a esse ramo, modelos atuaram na novela, houve a consultoria do Giovanni Bianco o tempo todo, fotógrafos, estilistas, maquiadores, diretores de arte, até uma agência de modelos, a indústria que realizava os desfiles, os catálogos de moda. Isso tudo trouxe muita credibilidade, principalmente para as pessoas que realizam esse trabalho, elas reconheceram a seriedade com que tudo foi feito, a preocupação em retratar a realidade, mesmo. Em se tratando de uma obra de ficção, há sempre o risco de soar falso. Daí a preocupação da equipe com todos os detalhes. Fora isso, o Silvio foi muito fiel à sinopse, à idéia que ele tinha da novela, ao que acreditava, e, com o comando da Denise Saraceni na direção, ficou tudo muito bem resolvido artisticamente. Ela sabe delegar, escolher as pessoas que trabalham com ela, tanto na direção quanto no figurino, cenário, maquiagem, iluminação, ela se cerca de profissionais que já fizeram vários trabalhos juntos, são pessoas muito bem situadas naquilo que fazem, e isso gera confiança na equipe. Assim, todos trabalharam com garra, com o mesmo objetivo, contando a mesma história. Deu tudo certo. Durante toda a novela tivemos a oportunidade de ver atores já conhecidos contracenando com gente nova, mas tudo sempre com muita qualidade. As tramas foram bem desenvolvidas. Foi um encontro belíssimo.
Que trabalhos você destaca no cinema?
O primeiro filme em que atuei foi Índia, filha do sol, no qual completei 18 anos durante as filmagens, em Goiás Velho. Foi um filme especial para mim, em termos de composição da personagem. Fazia uma índia torturada, um trabalho muito difícil pelas condições da locação, complicado fisicamente, cansativo, mas ficou bonito, poético, um filme atemporal. Às vezes revejo e fico abismada com essa qualidade do filme, de não ser datado, não se consegue definir uma época. Tenho muito carinho por esse trabalho. Outra experiência pessoal também incrível no cinema foi Memórias do cárcere. Tive a oportunidade de conhecer a dona Heloísa Ramos, que era a minha personagem no filme. Ela esteve na locação e me contou particularidades da sua vida com Graciliano Ramos, das visitas à prisão, coisas íntimas que foram decisivas para poder interpretá-la. A direção do Nelson Pereira dos Santos, também, foi primorosa. No filme O quatrilho, eu me reencontrei com o Fábio Barreto, numa história linda. O trabalho durante as filmagens transcorreu muito bem e o resultado, melhor ainda. Concorremos ao Oscar, com a Patrícia Pillar, o Alexandre Paternost, Bruno Campos. Depois, fiz A partilha, com Daniel Filho. E, a seguir, Se eu fosse você, com o Tony Ramos, também com direção do Daniel, campeão de bilheteria, muito bacana, uma comédia romântica, também uma experiência nova em que eu e o Tony trocávamos de identidade, nos divertimos muito, foi delicioso.
Você nunca atuou em teatro?
Fiz apenas uma peça infantil, durante uns três finais de semana. Era com amigos meus, minha professora de dança. Trabalhei nesse musical, mas depois saí porque estava fazendo Cabocla, gravava inclusive aos sábados, e não dava para conciliar. Mas foi muito divertido. Era um musical, eu cantava, dançava.
E depois não surgiu outra oportunidade, ou você não tem vontade de fazer teatro?
Na verdade, acho que não tenho muita vontade. Fiz uma leitura, na Bienal, do livro Dona Rosita, solteira que foi uma experiência bem interessante. Havia uma grande platéia, no Riocentro [Centro de convenções na zona oeste do Rio], um espaço enorme, na cidade do Rio de Janeiro. Todos os atores no palco lendo, foi uma experiência nova para mim, e gostei bastante. Mas o que adoro mesmo é fazer televisão.
Você vê alguma mudança, ao longo desses anos, na relação do público com os atores e as novelas?
Antigamente, as pessoas se envolviam muito mais com as novelas, a ponto de acharem que aquilo podia ser verdade, confundirem os atores com os personagens. Mas hoje isso não existe mais. Até porque a vida dos atores é tão divulgada, não há mais espaço para esse tipo de confusão. O público sempre foi muito carinhoso comigo. Creio que pelo fato de o público ter assistido ao meu pai e acompanhar o meu trabalho desde criança, o nascimento dos meus filhos, meu casamento e, agora, o trabalho da minha filha, que segue a mesma carreira, sinto o público como amigo da família. As pessoas extravasam esse sentimento de uma forma muito carinhosa.
Para vocês, atores, o que mudou com a construção do Projac [Centro de produção da TV Globo, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio]?
Melhorou em muitos aspectos. A primeira vez que entrei na emissora, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, após um incêndio, estava tudo em obras, e o corredor por onde passávamos para chegar aos estúdios A, B, C e D era lúgubre, escuro. Os estúdios eram muito pequenos, havia uma tabela de revezamento de gravação. Em alguns dias da semana, era gravada a novela das 20h, em outros, a das 18h, e assim por diante. A maquiagem era uma só para todo mundo. Os banheiros, também. Isso sem falar na odisséia para se chegar ao estúdio. Primeiro, ficávamos rodando horas para estacionar. Depois, tínhamos que vencer os fãs que ficavam na porta, aglomerados, pedindo fotos, autógrafos. Quando conseguíamos chegar ao tal corredor, éramos recebidos pela imprensa. Falávamos, explicávamos, marcávamos hora. Finalmente, conseguíamos chegar à maquiagem, ao camarim, mas levávamos um tempo enorme. Com o Projac, houve, sem nenhuma dúvida, uma mudança para melhor. Cada núcleo tem seu estúdio e, em termos de conforto, está tudo um espetáculo.
Você citou vários trabalhos realizados na TV Globo. Qual personagem foi mais difícil de realizar?
Maria Moura, por causa da preparação da personagem que tive de fazer e pelo longo processo de trabalho, envolvendo locações difíceis, figurino muito pesado. Eu usava uma capa de couro, um colete de lã, uma pistola pesadíssima, um punhal, um rifle, tudo isso em cima de um cavalo. A caracterização foi, realmente, trabalhosa: a maquiagem, as unhas sujas. Foi o trabalho mais difícil para mim.
E de qual deles você mais gostou?
Gostei de vários, pelos mais diversos motivos. Mico preto, por exemplo, que não foi uma novela campeã, em termos de audiência, teve um convívio tão bacana, fiz tantos amigos durante a novela, amizades que permanecem até hoje.
Algum personagem que tenha tido repercussão?
Repercussão, sim. Mas tudo isso faz parte do modismo, do momento. Muda a novela, surgem outras novidades, o modismo é outro.
De que maneira você acha que a TV influencia o país?
Hoje existe uma preocupação muito legal de informar. Houve uma época em que a televisão estava muito preocupada só com audiência. E esse embate prejudicou demais o bom nível da programação. Mas foi uma fase, acho que hoje isso está melhorando. A televisão é um veículo democrático, devido ao seu alcance. Ela chega até mesmo àquelas pessoas que não sabem ler e escrever. Hoje, existe a consciência, por parte das emissoras, do poder da televisão. A própria TV Globo investiu em projetos sociais como o Criança Esperança e o Amigos da escola, uma coisa efetiva, isso é muito importante. Sempre achei que essa era a vocação real da televisão. Infelizmente, no nosso país, ainda temos um número muito grande de analfabetos, ainda existe evasão escolar, uma série de dificuldades, e a televisão tem essa característica maravilhosa de poder informar, esclarecer, levar notícias, mostrar acontecimentos, enfim, tem o poder de inclusão das pessoas menos favorecidas.
Você tem notícia da repercussão dos seus trabalhos exibidos no exterior?
Às vezes. Sei que, em Portugal, é um sucesso incrível. Recebo cartas de pessoas de vários países falando que estão vendo determinada novela. Estava passando Mulheres de areia na Rússia. E foi um sucesso tão grande, que, parece, o partido do Yeltsin usou declarações minhas no jornal. Soube disso por meio do Departamento Internacional da Globo. Enfim, as novelas têm muita repercussão no mundo, não só no Brasil.
Que pessoas foram importantes na sua trajetória profissional, além de seu pai?
Primeiramente, uma série de atores; prefiro não falar os nomes, porque posso me esquecer de alguém. Mas foram pessoas decisivas na minha opção profissional, na minha trajetória e continuam sendo a minha maior fonte de inspiração. Quando vejo um ator fazendo um trabalho maravilhoso, aquilo me dá um gás, me dá vontade de criar mais e mais, para realizar coisas bacanas também. Além de atores, alguns diretores e autores são pessoas muito caras, também: Daniel Filho, Gilberto Braga, Dennis Carvalho, Denise Saraceni e, agora, Silvio de Abreu, que foi uma descoberta. Depois de trinta e tantos anos de carreira, tive a oportunidade de realizar um trabalho muito prazeroso com ele. Não posso deixar de citar Boni, que acreditou em mim 100%, e Mário Lúcio Vaz, que sempre apostou na minha história, no meu talento.
O que você acha desse trabalho de preservar a história da TV Globo e de seus profissionais?
Muito legal, acho importantíssimo. Faz parte, é imprescindível resgatar esses trabalhos incríveis que foram feitos, momentos que precisam ficar registrados na história da produção televisiva brasileira. A TV Globo sempre buscou não só as melhores condições técnicas, mas também a qualidade artística. E isso associado a uma vontade incrível de fazer, de realizar, desse brasileiro visionário, genial, que foi Roberto Marinho.
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