O roteiro adapta o livro “Flores Raras e Banalíssimas”, no qual Carmem Lucia de Oliveira descreve a relação amorosa entre duas figuras importantes de seus respectivos países: Lota idealizou e supervisionou a construção do Parque do Flamengo (conhecido como Aterro do Flamengo) e Elizabeth recebeu o prêmio Pulitzer pelo livro “North & South — A Cold Spring”. “Elas se amaram e viveram juntas os momentos mais importantes de suas vidas. Bishop ganhou o prêmio quatro anos depois de estar com Lota; e Lota fez aquela que é uma das melhores obras do mundo. Por muito tempo, elas cresceram juntas, depois começaram a crescer em direções opostas”, comentou o diretor Bruno Barreto durante entrevista coletiva para apresentar a produção.
Para Glória, “Flores Raras” será uma oportunidade de fazer justiça à história de Lota, que é desconhecida do grande público, mesmo dos cariocas. “Achei muito bacana a possibilidade de podermos consertar algo historicamente errado. É uma grande injustiça Lota não ser reconhecida por sua participação na vida da nossa cidade”. Mas a atriz lembrou que o papel ainda tem outras qualidades: “Ela é uma personagem tão forte, uma mulher inovadora, à frente do seu tempo e extremamente culta. Achei toda essa junção de atrativos muito emocionante”, explicou.
Miranda Otto também ficou empolgada com a chance de estrelar uma história sobre mulheres com ideais e posicionamentos avançados para a sua época – Lota e Elizabeth nunca esconderam suas preferências sexuais, apesar dos conservadores anos 1950. “Quando li o roteiro, percebi o quanto elas eram modernas, fora das convenções. Foi isso que me atraiu”, explicou a a atriz australiana.
Além de Miranda, o longa terá outra atriz estrangeira: a norte-americana Tracy Middendorf (da série “Boardwalk Empire”). Bastante sorridente, Tracy contou que estava doente e indisposta quando recebeu o convite, mas assim que leu o roteiro ela confirmou sua participação. “Três dias depois eu estava no Rio, aprendendo português, dança e capoeira”, ela brincou. A americana vai interpretar Mary Morse, ex-companheira de Lota e responsável por apresentar as duas mulheres.
Durante a entrevista, Barreto confirmou que haverá uma cena de sexo entre as personagens, mas tratou o assunto com naturalidade e enfatizou sua preocupação em focar a trama. “O tema central não é suas preferências sexuais”, explicou. “Existe essa cena, quando elas fazem amor pela primeira vez, mas é para ilustrar a relação delas. Não seria correto omitirmos ou evitarmos esse assunto”, disse o diretor, que também avisou: “O brasileiro se diz muito liberal, mas na verdade somos conservadores”.
Barreto viu esse preconceito de perto enquanto tentava encontrar patrocínio para o longa. “Não conseguimos um tostão de nenhuma empresa privada”, reclamou. Orçado em R$ 13 milhões, a produtora do diretor só conseguiu arrecadar R$ 9 milhões por meio de instrumentos estatais como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Lei de Incentivo à Cultura, entre outros – além de investimentos da Globo Filmes e da Imagem Filmes. Pela primeira vez na carreira de Barreto, ele vai iniciar as filmagens de um longa sem o orçamento fechado, que será complementado pela mãe e produtora Lucy Barreto. “Em 50 anos, isso nunca aconteceu. Minha mãe precisou deixar ações coo caução no banco. Não entendo esse preconceito. O filme nem explora a questão de forma muito explícita”, protestou. “Mas decidimos rodar porque esse era um filme que precisava ser feito. É um sonho antigo. Esperamos que o empresariado mude de ideia”, comentou o diretor, lembrando que sua mãe já tentava levar essa história ao cinema há cerca de 17 anos.
Glória sugeriu que “Flores Raras” possa inclusive ajudar os espectadores a refletirem a questão do preconceito e da homofobia, já que sua abordagem é natural e propicia a discussão. “É uma história de amor que, por acaso, é entre duas mulheres. Poderia ser entre um homem e uma mulher”, apontou. “Espero que o longa sirva para que as pessoas vejam a temática de outra forma e não fiquem tão preocupados com a opção sexual de cada um”. Lota e Elizabeth viveram juntas por 14 anos, porém a relação teve um final trágico. Dois anos após a separação, a brasileira cometeu suicídio.
O roteiro foi escrito por Carolina Kotscho (“2 Filhos De Francisco”) e revisto pelo americano Matthew Chapman (“O Júri), e terá mais de 90% de suas falas em inglês. O longa terá cenas gravadas em Nova York, Paris, Petrópolis e no Rio de Janeiro e terá utilização de efeitos digitais para refazer a paisagem do Aterro do Flamengo e da Praia de Copacabana dos anos 1950. Completam o elenco o ator americano Treat Williams (“127 Horas”), como o poeta Robert Lowell, e brasileiro Marcello Airoldi (“Onde Está a Felicidade?”), como Carlos Lacerda, governador do antigo Estado da Guanabara.
O filme deve entrar em cartaz apenas em 2013.
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