segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"Flores Raras" no Festival de Berlim



O Brasil levou para o Festival de Berlim o filme “Flores Raras” (“Reaching for the Moon”, no título internacional), que aborda os 15 anos de relação amorosa entre a poetisa americana Elizabeth Bishop, prémio Pulitzer em 1956, e a urbanista, paisagista e arquitecta brasileira Lota de Macedo Soares.

A obra, dirigida por Bruno Barreto e exibida dentro do festival na secção Panorama, começa em 1951, quando a escritora viaja ao Rio de Janeiro em busca de inspiração e aloja-se na casa de Mary, uma antiga colega de estudos, e da sua companheira, Lota.

A extrema timidez de Elizabeth contrasta com a sensualidade de Lota, que num primeiro momento causa rejeição na poetisa. Mas esse sentimento inicial dá passagem para o amor numa difícil relação a três, pois Mary não está disposta a renunciar a Lota.

Este triângulo amoroso desequilibra-se quando Lota começa a sua maior obra, o desenho do Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro, e Elizabeth embarca num destrutivo consumo de álcool, com o golpe militar de 1964 como cenário.

“Tive a oportunidade de conhecê-las nos anos 50 e, sim, foi o grande amor das duas”, disse em conferência de imprensa a produtora do filme, Lucy Barreto, ao referir-se à escritora e à arquitecta.
Segundo Lucy Barreto, “foi o amor da maturidade”, pois “Lota tinha 41 e Elizabeth, 40, e ficaram juntas 15 anos”.

“Acho que teriam ficado para sempre, se Lota não tivesse morrido”, afirmou a produtora, para quem as duas mulheres “tinham tal intimidade” que “se falavam com o olhar, com sorrisos”, de modo que observá-las se transformava em algo “especial”.

A actriz australiana Miranda Otto, que no filme encarna a poetisa, confessou que não sabia nada de Elizabeth Bishop quando recebeu o argumento, mas que ao ler sobre ela teve a impressão de que teve uma “vida incrível”.

“Escrevi uma mensagem para o Bruno (Barreto) e disse-lhe que ‘adoro estas duas mulheres’, porque é muito pouco frequente encontrar argumentos sobre mulheres que são protagonistas tanto pela sua inteligência como pela sua sexualidade”, revelou.

Uma das coisas que a fascinou no filme, acrescentou, “foi a ideia das duas artistas convivendo e o facto de que estejam apaixonadas mas também sentiam tanta paixão pelo que faziam”.

Lucy Barreto disse ainda que foi testemunha da construção do Parque do Flamengo. “Penso que a luta de Lota não teve o merecido reconhecimento e pensei que devia fazer algo. Quando conheci Elizabeth, li os seus poemas e senti admiração por eles e pensei que tinha que escrever algo sobre elas”, explicou. A produtora contou que o filme foi o sonho da sua vida durante 17 anos, após ter lido no Natal de 1995 o romance “Flores raras e banalíssimas” de Carmen L. Oliveira.

Após ler o romance, Lucy Barreto soube que quem devia interpretar Lota era a actriz brasileira Glória Pires, que ao receber dias mais tarde um exemplar da obra afirmou, ainda sem existir argumento algum, que aquele papel era o seu.

“Gloria e Miranda são a essência do filme”, afirmou Bruno Barreto, para quem num primeiro momento a história de Elizabeth Bishop e Lota de Macedo Soares não tinha ingredientes para um filme.

Em 2004, finalmente ele leu o romance de Carmen L. Oliveira, mas não tinha claro de que ângulo deveria focar a história. “O importante é o porquê querer contar uma história e eu queria falar sobre a perda. Estava passando pelo divórcio e talvez por isso surgiu o ângulo da perda”, disse o cineasta. “Flores Raras” também se destaca pelas suas belas paisagens e fotografias e é uma das mais caras produções do cinema brasileiro da história, com um orçamento de cerca de 6,5 milhões de dólares.

O Brasil está presente também nesta 63ª edição da Festival de Berlim com duas co-produções na secção Panorama, “Frances Há”, de Noah Baumbach, com os Estados Unidos, e “Habi, a estrangeira”, de María Florença Álvarez, com a Argentina.

A secção Generation, dedicada ao género infantil e juvenil, inclui as curtas-metragens brasileiras “Destimação”, de Ricardo de Podestá, “O pacote”, de Rafael Aidar, e “Xe tai cua bo”, co-produzido com o Vietname.Além disso, o documentário “Hélio Oiticica”, produção do seu sobrinho Cesar Oiticica Filho, é exibido na secção Fórum e complementa-se com duas exposições na capital alemã.

Fonte:Jornal de Angola

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