Baseado no livro "Flores Raras e Banalíssimas", de Carmen L. Oliveira, "Flores Raras" (2013) estreia nesta sexta-feira, dia 16, recheado de cenas corajosas protagonizadas por Glória Pires eMiranda Otto. O SRZD já conferiu o novo longa do diretor Bruno Barreto e gostou do resultado.
A produção conta a história de amor entre a escritora americana Elizabeth Bishop (Otto) e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Pires), entre os anos de 1950 e 1960, quando viveram juntas no Rio de Janeiro e em Petrópolis.
O filme aborda o homossexualismo sem concessões e de forma muito natural, especialmente pelo desempenho primoroso das duas atrizes, que se entregaram literalmente às personagens em cenas de beijo e sexo, o que pode incomodar a fatia conservadora do público.
Não é exagero algum dizer que Miranda Otto e Glória Pires arrasam em cena, principalmente Otto que acertou o tom da personagem desde o início. Já Glória, arrasa, sim, mas custou um pouquinho a encontrar o tom natural exigido por Lota, exagerando na masculinidade nas cenas iniciais. O que não desmerece seu trabalho, pelo contrário. A atriz está sensacional como a arquiteta de temperamento forte e senso prático, que faz um contraponto com a sensível e alcóolatra escritora. E é exatamente esse o motor do filme. Ao longo de sua projeção vemos como uma transforma a outra, e percebemos a fraqueza de Lota diante da perda e a força inesperada de Elizabeth.
Se elas estão bem em cena, seus coadjuvantes não ficam atrás. Tracy Middendorf está muito bem como Mary, mulher traída que se mantém fiel à Lota até o fim, por vezes prejudicando o relacionamento da arquiteta com Elizabeth; assim como Treat Williams (Robert Lowell) em suas cenas, rodadas em Nova York com Otto.
"Flores Raras" também aborda a adoção de crianças por homossexuais, já que na vida real elas adotaram quatro crianças. Porém, no filme, apenas uma criança é mostrada e foi vendida à Lota e Mary para escapar da miséria. Atitude condenável de ambas as partes, mas comum à época, assim como aos dias atuais, infelizmente.
O roteiro assinado por Matthew Chapman e Julie Sayres é redondinho e agrada bastante, só que nos primeiros minutos de filme tudo é apresentado rápido o suficiente para lhe conceder certa superficialidade, pois determinadas situações careciam de maior aprofundamento, como por exemplo, o término do romance de Lota e Mary (Tracy Middendorf) após a chegada de Elizabeth à Samambaia.
Tecnicamente o filme também agrada bastante com figurino, direção de arte, fotografia,maquiagem e trilha sonora de qualidade. A trama acompanha a vida de Elizabeth e Lota durante muitos anos e carecia de uma caracterização perfeita e natural para envelhecer as atrizes, o que foi feito digna e gradativamente, sem nenhum exagero.
Sem dúvida alguma, "Flores Raras" é o melhor filme de Bruno Barreto e não há como negar sua qualidade. Mas deixa nítida a preocupação do diretor em realizar um projeto visando grandes premiações. Se você pensou em Oscar, acertou, mas não na categoria de filme estrangeiro, pois ele é majoritariamente falado em inglês, o que impossibilita sua candidatura porque para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (AMPAS) o que importa é o idioma, não a nacionalidade. O objetivo, neste caso, é buscar indicações para as duas atrizes, segundo o próprio diretor em recente entrevista.
"Flores Raras" é um filme excelente e que merece ser assistido sem preconceitos, não apenas por sua história, mas pelas belas atuações de Glória Pires e Miranda Otto, que valem cada centavo do ingresso.
Fonte: SRZD
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